China revoluciona telecomunicações com 1ª videochamada via satélite 5G

China realiza a 1ª videochamada do mundo via satélite 5G para celular comum, sinalizando uma revolução na conectividade e desafiando a Starlink.

6/22/20255 min read

antena de transmissão
antena de transmissão

Foto: macrovecto Freepick

Em junho de 2025, a China alcançou um marco tecnológico que pode transformar radicalmente a maneira como nos conectamos: a realização da primeira videochamada do mundo diretamente de um satélite 5G para um celular comum, sem necessidade de infraestrutura terrestre ou dispositivos especializados. O feito, conduzido pela estatal China SatNet, insere o país na vanguarda das comunicações móveis e lança novas luzes sobre a competição global por supremacia tecnológica, especialmente frente à Starlink, rede da SpaceX.

Esse avanço se apoia no desenvolvimento das redes não terrestres 5G (5G NTN), aprovadas pela 3GPP (organismo internacional responsável pela padronização das tecnologias móveis). Mais do que uma demonstração de engenharia, o evento sinaliza uma nova era na conectividade, com impactos que vão da inclusão digital em áreas remotas até a soberania cibernética de nações.

O que é o 5G não terrestre (5G NTN) e por que ele é disruptivo

O 5G NTN (Non-Terrestrial Networks) é uma vertente da tecnologia 5G que permite comunicações diretas entre satélites e dispositivos móveis terrestres, como smartphones. Isso difere dos sistemas convencionais de satélites, que exigem antenas específicas ou dispositivos intermediários.

A proposta do 5G NTN é estender o alcance das redes móveis além da infraestrutura terrestre, cobrindo regiões inóspitas, como oceanos, desertos, áreas montanhosas, zonas de desastres naturais e campos de batalha.

Segundo a 3GPP, o 5G NTN é parte essencial da especificação Release 17, que contempla:

  • Comunicação direta com celulares (direct-to-device);

  • Compatibilidade com os padrões já existentes de rede 5G;

  • Capacidade para baixa latência e alta taxa de transferência;

  • Interoperabilidade com redes terrestres e sistemas IoT.

Essa arquitetura híbrida torna possível algo que até pouco tempo era ficção científica: conectividade global e contínua, sem depender de torres ou cabos.

Benefícios do 5G não terrestre:

  • Ampliação da cobertura em áreas remotas;

  • Backup para redes convencionais em situações de emergência;

  • Redução da exclusão digital;

  • Novas aplicações em logística, agricultura de precisão, defesa e transporte marítimo.

A videochamada histórica da China: detalhes técnicos e impacto

A China SatNet, estatal chinesa responsável pelo ambicioso projeto de constelação de satélites Guowang (previsto para ter 13 mil unidades), foi quem realizou a histórica videochamada. A ligação foi feita a partir de um satélite em órbita para um smartphone comum, sem nenhum hardware adaptado, utilizando os protocolos internacionais do 5G NTN.

Esse feito representa o salto mais avançado da China em telecomunicações até hoje. Até então, as iniciativas envolvendo redes não terrestres limitavam-se a envio de mensagens de texto ou dados com baixa velocidade. A realização de uma videoconferência em tempo real implica:

  • Comunicação bidirecional com baixa latência;

  • Sinal de alta qualidade e estável;

  • Eficiência espectral e integração com redes existentes.

Como foi possível?

Segundo o South China Morning Post, os testes foram realizados em ambientes controlados e ao ar livre, com validação dos protocolos do 3GPP. A conexão utilizou o espectro Ka e contou com modulações avançadas para superar a perda de sinal causada pela distância e pelo movimento orbital dos satélites.

Esse é um marco não apenas tecnológico, mas estratégico: a China mostra ao mundo que está em condições de liderar uma nova infraestrutura global de conectividade, menos dependente de cabos, torres e, principalmente, das redes ocidentais.

Implicações estratégicas: Starlink, EUA e o novo jogo geopolítico

A China não esconde que a constelação Guowang é sua resposta direta ao projeto Starlink, da SpaceX, que atualmente já opera com mais de 6.000 satélites em órbita. Embora a Starlink esteja bem à frente em termos de cobertura e usuários, ela ainda depende de terminais receptores específicos (os famosos “dishes”), o que limita seu uso em celulares comuns.

A realização de uma videochamada 5G sem aparelhos adaptados coloca a China um passo à frente no conceito de conectividade "direto ao dispositivo". Além disso, cria um cenário competitivo em três frentes:

  1. Tecnológica: avanço chinês pressiona empresas ocidentais a acelerarem soluções similares, como o projeto de constelações da Amazon (Kuiper) e da OneWeb.

  2. Econômica: o 5G NTN pode reduzir drasticamente os custos de cobertura em locais remotos, com impacto no mercado global de telecomunicações.

  3. Geopolítica: o domínio da infraestrutura espacial de comunicação dá vantagens em cenários de guerra cibernética, espionagem e controle de informação.

Essa mudança também preocupa os EUA, que até então lideravam a inovação em redes móveis com apoio da Qualcomm, Apple, SpaceX e outras. A independência tecnológica da China ameaça enfraquecer a hegemonia digital ocidental, especialmente em países emergentes que buscam alternativas mais acessíveis.

O futuro das redes móveis além da Terra: oportunidades e desafios

A bem-sucedida demonstração da China indica que o futuro da conectividade não estará mais restrito à Terra. Além de ampliar o acesso em áreas isoladas, o 5G via satélite abre novos mercados e aplicações:

Oportunidades:

  • Monitoramento ambiental e climático em tempo real;

  • Gestão de frotas marítimas e aéreas com cobertura global;

  • Internet em expedições científicas e polos de mineração;

  • Redes de emergência em situações de catástrofes naturais;

  • Autonomia para veículos aéreos não tripulados (VANTs) e drones logísticos.

Desafios:

  • Congestionamento orbital e risco de colisões com o crescente número de satélites;

  • Regulação internacional sobre uso de espectro e soberania digital;

  • Segurança cibernética, uma vez que os dados trafegam diretamente por redes espaciais;

  • Custo de lançamento e manutenção de satélites.

Segundo relatório da Allied Market Research, o mercado de redes 5G não terrestres deve alcançar US$ 30 bilhões até 2030, com crescimento impulsionado por parcerias público-privadas, uso militar e expansão rural.

A realização da primeira videochamada do mundo via satélite 5G por cientistas chineses representa muito mais que um feito técnico: trata-se de um divisor de águas na história das comunicações móveis. A China, ao utilizar o padrão 5G NTN e conectar um celular comum ao espaço, redefine os limites da infraestrutura digital global.

Esse evento simboliza uma mudança de paradigma, com efeitos profundos sobre a economia, a geopolítica e a vida cotidiana. Em um futuro próximo, onde cada dispositivo poderá estar conectado diretamente ao espaço, a competição por essa infraestrutura será feroz — e as nações que liderarem esse avanço terão vantagens estratégicas incomparáveis.

A Starlink, os Estados Unidos e outras potências tecnológicas estão agora diante de um novo cenário, no qual não basta mais oferecer velocidade ou cobertura. O que está em jogo é a autonomia, o alcance e a influência sobre a próxima geração de comunicação planetária.

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