Domo de Ouro: o futuro da defesa antimísseis dos EUA explicado

Conheça o Domo de Ouro, o escudo antimísseis dos EUA com rede espacial e terrestre, custo bilionário e polêmica geopolítica.

Luis Marcel

7/18/20255 min read

domo de ouro EUA
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Em um mundo cada vez mais ameaçado por conflitos geopolíticos e avanços tecnológicos de potências rivais, os Estados Unidos anunciaram uma das iniciativas mais ambiciosas de defesa desde a Guerra Fria: o Domo de Ouro. Inspirado no bem-sucedido sistema israelense Domo de Ferro, o projeto norte-americano visa criar um escudo antimísseis capaz de proteger o território continental dos EUA contra ataques balísticos — com um diferencial: o uso combinado de interceptadores espaciais, sensores de inteligência artificial e radares terrestres em escala continental. Este artigo explica, em detalhes, o que é o Domo de Ouro, como deve funcionar, quais são os custos e os desafios envolvidos e o impacto global de sua implementação.

O que é o Domo de Ouro?

Anunciado oficialmente em 20 de maio de 2025 pelo ex-presidente Donald Trump, o Domo de Ouro é um projeto bilionário de defesa antimísseis com atuação espacial e terrestre. O sistema tem como objetivo proteger o território dos EUA contra ameaças balísticas lançadas por países como China, Rússia, Coreia do Norte e Irã.

Diferentemente de sistemas existentes como o THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) ou o Patriot, o Domo de Ouro será uma estrutura integrada e contínua, cobrindo praticamente toda a extensão dos Estados Unidos — aproximadamente 9,8 milhões de quilômetros quadrados.

Sua base tecnológica combina satélites espiões, sensores em solo e mísseis interceptores capazes de abater alvos em múltiplas fases de voo. O nome é uma alusão ao sistema Iron Dome (Domo de Ferro), usado por Israel desde 2011 para interceptar foguetes de curto alcance. O Domo de Ouro, porém, representa um salto gigantesco em termos de escala, complexidade e custo.

O general Michael Guetlein, ex-comandante da Força Espacial dos EUA, foi nomeado para liderar o desenvolvimento do projeto, que já iniciou negociações para possíveis cooperações com países aliados como o Canadá.

Como vai funcionar o sistema?

O Domo de Ouro atuará em quatro camadas de interceptação, com o objetivo de neutralizar uma ameaça em qualquer etapa de sua trajetória:

  1. Fase de pré-lançamento: sensores espaciais e terrestres buscam sinais antecipados de movimentação de lançamento inimigo.

  2. Fase de decolagem: radares detectam o míssil em ascensão e calculam sua trajetória.

  3. Fase de cruzeiro: satélites e radares acompanham o objeto em órbita ou subórbita, acionando os interceptadores necessários.

  4. Fase de reentrada/impacto: caso os estágios anteriores falhem, mísseis terrestres e lasers terrestres (em desenvolvimento) tentarão a interceptação final.

Para isso, o projeto prevê o lançamento de dezenas de satélites de alta capacidade, conectados a centros de comando por meio de inteligência artificial. Os interceptadores poderão ser lançados tanto de solo quanto diretamente do espaço, um conceito que ainda está em estágio inicial de testes. A sincronização entre os diferentes componentes será feita por algoritmos com capacidade de resposta em tempo real — com margem de erro mínima.

Além disso, o sistema prevê redundância operacional: se uma unidade falhar, outras poderão assumir a função. A arquitetura distribuída torna o Domo de Ouro menos vulnerável a ataques concentrados.

Custo, cronograma e desafios

O custo estimado do Domo de Ouro é de, no mínimo, US$ 175 bilhões, podendo alcançar US$ 542 bilhões em 20 anos, ou até US$ 831 bilhões em cenários de manutenção intensiva, de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA (CBO).

Para efeito de comparação, o orçamento anual de defesa dos EUA em 2025 foi de aproximadamente US$ 840 bilhões. Ou seja, o Domo de Ouro, sozinho, poderá consumir até 99% de um ano inteiro de despesas militares, se atingir o teto estimado.

O plano atual estabelece que o sistema deverá estar parcialmente operacional até janeiro de 2029, com etapas de testes e implantação gradual até 2032. A proposta orçamentária enviada por Trump ao Congresso inclui um financiamento inicial de US$ 25 bilhões, oriundos da revisão fiscal que pretende substituir o atual código tributário por um imposto nacional sobre vendas.

Porém, o projeto enfrenta resistência no Congresso, inclusive de parlamentares do próprio Partido Republicano, que consideram o orçamento excessivo e a execução arriscada. Além disso, há dúvidas quanto à viabilidade técnica de integrar tantos sistemas complexos em escala continental.

Outro desafio está na manutenção dos satélites e interceptadores em órbita: o lixo espacial e a necessidade constante de reposição de unidades danificadas podem elevar ainda mais os custos.

Comparação com o Domo de Ferro e implicações geopolíticas

O Domo de Ouro foi claramente inspirado no Domo de Ferro de Israel, um sistema antimísseis que se tornou mundialmente famoso por interceptar com eficácia foguetes de curto alcance disparados pelo Hamas e Hezbollah.

O Domo de Ferro é uma solução local, ideal para áreas urbanas, com alcance de até 70 km e eficácia estimada superior a 90%. Já o Domo de Ouro busca proteger uma área 460 vezes maior — com alvos de longo alcance e múltiplas ogivas, como mísseis hipersônicos e armas nucleares.

Essa ambição eleva não só os custos, mas também o impacto geopolítico. A China foi o primeiro país a condenar o projeto, acusando os EUA de militarizar o espaço e ameaçar o equilíbrio estratégico global. Pequim alertou para uma possível corrida armamentista, caso Washington prossiga com a instalação de interceptadores em órbita.

Rússia e Irã também manifestaram preocupação. Moscou classificou o plano como uma “provocação estratégica”, enquanto Teerã disse que responderá à altura caso o sistema seja usado para interferir em seu programa de mísseis.

Na ONU, países como Brasil, Alemanha e Japão pediram que o projeto seja debatido em fóruns multilaterais, a fim de evitar novos desequilíbrios militares.

Do ponto de vista técnico, especialistas alertam que nenhum sistema antimísseis é infalível, especialmente contra ataques múltiplos e coordenados. Além disso, hackers e ataques cibernéticos podem comprometer a funcionalidade dos algoritmos de defesa.

O Domo de Ouro representa a mais ambiciosa tentativa dos Estados Unidos de criar uma rede de defesa integrada contra ameaças balísticas em grande escala. Combinando sensores, satélites, mísseis interceptores e inteligência artificial, o sistema promete uma nova era na segurança nacional americana — mas traz consigo custos altíssimos, desafios técnicos monumentais e sérias repercussões geopolíticas.

Se bem-sucedido, o projeto poderá redefinir os padrões de defesa global e consolidar a supremacia tecnológica dos EUA em defesa estratégica. Caso falhe, poderá se tornar um dos empreendimentos mais caros e controversos da história militar moderna.

A única certeza é que, com o avanço do Domo de Ouro, o mundo entra em uma nova fase de militarização do espaço — e o debate sobre os limites éticos, políticos e financeiros da defesa global precisa ser levado a sério.

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